Santa, pecadora... Olhar pra dentro é ver-se de verdade: enxergar os paradoxos e aceitar[si].

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Santa, pecadora, com o Amor na veia e a alma nas vísceras.

Contagem regressiva para Tainá pipocar!!!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Uma homenagem ao Amor (a lição de Diotima à Sócrates)

Hoje não venho aqui dissertar sobre a minha vida, simplesmente. Pairo em meus pensamentos em detrimento às minhas vivências e, fazendo uma cartarse com o outro, me atrevo a reproduzir um texto magnífico sobre a naureza do (semi)deus Amor. Não encontro palavras que traduzam com mais originalidade, veracidade e singeleza o que vem a ser o Amor, como na lição de uma sábia mulher (sim... uma mulher!) ao maior de todos os filósofos, Sócrates. São fragmentos de uma das passagens mais belas do capítulo "Um Banquete", (livro "Diálogos", de Platão). Tudo isso unido a abertura de um dos filmes mais astusciosos sobre o tema dos relacionamentos humanos: "Closer- Perto demais".

Fragmentos de "Um Banquete" (Diálogos de Platão)
Sobre o Amor



"-Quem é o pai e quem é a mãe? - perguntou Sócrates à Diotima.


-A história é um tanto longa - respondeu ela - contudo, vou contá-la. No dia em que Afrodite nasceu, os deuses davam um banquete. Achava-se entre eles o filho de Astúcia, que é Engenho. Acabado o banquete, chegou Penúria, para mendigar, visto que havia mesa farta, e parou à porta. Entretanto, Engenho, ébrio de néctar - o vinho ainda não existia - saiu para o jardim de Zeus e caiu num sono pesado. Penúria, eternamente em dificuldades, entendeu de ter um filho de Engenho; deitou-se com ele e concebeu o Amor. Eis uma das razões de se ter tornado o Amor companheiro e servo de Afrodite: ter sido concebido no nascimento dela; outra é ser Afrodite bela e ele, por natureza, um amante do belo. Filho, pois, de Engenho e Penúria, o Amor teve esta sina: primeiro, é um eterno mendigo, longe de ser um ente mimoso e bonito, como pensa a maioria; ao contrário, é aturado, poento, descalço, sem teto, sempre deitado no chão, sobre terra nua, dormindo ao relento nas soleiras e nos caminhos, porque herdou a natureza da mãe e passa a vida na indigência. Mas, puxando pelo pai, vive espreitando o que é belo e bom, porque é viril, acometedor, teso, um caçador exímio, sempre a urdir suas malhas, ávido de inventivas e talentoso, passando a vida a filosofar, um mago extraordinário, um feiticeiro, um sofista. Ademais, não nasceu imortal nem mortal, mas, no mesmo prisma, ora viça e vive, ora falece, para de novo surgir vivo quando entra a operar a natureza engenhosa que lhe vem do pai. Todavia, a renda de seus talentos sempre se lhe esvai, de sorte que o Amor nunca está na miséria e nunca na opulência. Eis a explicação: deus nenhum se entrega à filosofia, nem aspira a tornar-se sábio, porque já o é; nem se entrega à filosofia outro qualquer que seja sábio; por sua vez, os ignorantes não se ocupam de filosofia, nem aspiram a ser sábios; pois nisto mesmo consiste a desgraça do ignorante, em julgar, não sendo distinto nem inteligente, que o é quanto lhe basta; porquanto quem não se crê carecido não aspira àquilo que não imagina lhe falte.


-Então, Diotima - perguntou Sócrates, - quem se ocupa de filosofia, se não os sábios nem os ignorantes?


-Isso - respondeu ela - é claro até para uma criança: são os que se acham a meio caminho entre aqueles e estes, e no seu número pode ser contado o Amor. Com efeito, o saber está entre as coisas mais belas e o Amor é desejo do belo; portanto, forçosamente o Amor é um filósofo e, sendo filósofo, está situado entre o sábio e o ignorante. Ainda é sua origem a causa disso, pois é filho de um pai sábio e industrioso e de uma mãe ignorante e apalermada. A natureza desse espírito, meu caro Sócrates, é essa. Quanto ao que imaginavas fosse o Amor, nada de admirar no teu engano; cria, segundo depreendo de tuas palavras, que o Amor fosse o objeto amado e não o amante; daí penso, veres no Amor uma suprema beleza. Na realidade, o ente amável é que é belo, mimoso, perfeito e merecedor da felicidade; o amante, esse tem outra figura, a que te descrevi."




Cena de abertura de "Closer - Perto demais"
Música de Damien Rice:
"The Blower's Daughter"






Continuemos em evolução... SEMPRE!!!

Beijos

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